Ao longo da vida, as células do corpo são renovadas periodicamente, e esse processo de substituição celular gera erros que são corrigidos por um sistema de reparo automático e contínuo. À medida que o indivíduo envelhece, a eficiência desse sistema de reparo diminui, e assim, células com lesões podem sobreviver e se transformar.
Como as células do estômago sofrem agressão por fatores como por exemplo: infecção, ingestão de bebidas alcoólicas, alimentos mal conservados, a falha do sistema de reparo pode permitir que células com lesões se multipliquem na superfície de revestimento do estômago, formando a doença conhecida como câncer.
Essa população de células tem a capacidade de multiplicação muito maior que as células normais, e assim, formam um aglomerado que chamamos de tumor.
Assim podemos definir o câncer gástrico como um tumor constituído por células com capacidade de crescimento local, tumor primário, e também com a capacidade de migrar e se implantar em outros órgãos do corpo do indivíduo, processo de formação de metástases.
O Câncer de Estômago é uma doença frequente no Brasil. Para cada ano do triênio 2020-2022 são esperados cerca de 21.230 novos casos no país, segundo o Instituto Nacional do Câncer - INCA. É o quarto tipo de Câncer mais comum no homem, ficando atrás de próstata, cólon/reto, traqueia/brônquio/pulmão. Na mulher, é o sexto mais incidente, ficando atrás da mama, cólon/reto, colo do útero, traquéia/brônquio/pulmão e glândula tireóide.
Mais importante ainda do que os números é a alta taxa de mortalidade devido a esta doença, sendo a 4ª causa de óbito no mundo, segundo GLOBOCAN 2020. Isto se deve ao fato de que grande parte dos casos ainda são diagnosticados em fase tardia, quando a chance de cura é pequena.
Autora: Profa. Dra. Marineide Prudêncio de Carvalho
Oncologista Clínica. Mestrado pela USP, Doutorado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP (FCMSCSP). Docente da FCMSCSP. Atividade profissional na Santa Casa de São Paulo e na Clínica São Germano.
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Em sua fase inicial, o câncer do estômago é uma doença silenciosa, e os sintomas, quando presentes, são mínimos. O paciente pode sentir dor na região superior do abdome, náuseas, queimação e distensão após se alimentar.
Em sua fase mais avançada, os sinais e sintomas, são mais variados e dependem da posição do tumor no estômago. Podemos citar o emagrecimento, queimação e dor na região alta do abdome, náuseas e vômitos, falta de apetite, dificuldade para ingerir alimentos ou líquidos, e anemia. Quando o tumor avança e obstrui o estômago, os doentes podem apresentar dor epigástrica, saciedade precoce e empachamento pós-prandial, emagrecimento, queimação, regurgitação, náuseas, vômitos com resíduos alimentares, entre outros.
Quando ocorre avançamento da doença para outros órgãos, são frequentemente encontrados: emagrecimento e caquexia, ascite, edema de membros inferiores, massa tumoral palpável no andar superior do abdome e gânglios linfáticos aumentados no pescoço e na região umbilical.
Prof. Dr. Ulysses Ribeiro Jr
Professor Associado de Cirurgia do Aparelho Digestivo do Departamento de Gastroenterologia. Coordenador Cirúrgico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo - ICESP-HCFMUSP
O Câncer de Estômago é uma doença muito frequente no Brasil e é um dos tipos mais comuns de câncer no mundo.
Existem fatores de risco, os quais devem ser de conhecimento da população já que a prevenção é sempre o melhor caminho tendo em vista ser uma doença grave e potencialmente letal. A medicina moderna tem percorrido cada vez mais o caminho do diagnóstico mais precoce possível tendo em vista que, em casos de Câncer de Estômago assim como em outros casos de câncer, quanto mais cedo tratamos da doença melhor é o prognóstico.
Desta forma passamos a listar abaixo e a tecer alguns comentários sobre os principais fatores de risco do Câncer de Estômago.
1. HISTÓRIA FAMILIAR
Este fator até há alguns anos atrás não era levado em consideração. Todavia estudos mais recentes sobre o câncer gástrico hereditário conseguiram comprovar que existe uma tendência genética ao desenvolvimento deste tipo de lesão em pessoas que tiveram parentes próximos com câncer de estômago. Alguns estudos conseguiram, inclusive isolar o tipo de gen envolvido com a transmissão familiar da doença.
2. DIETA RICA EM ALIMENTOS DEFUMADOS
Este conhecimento vem da observação que, em populações que consomem uma grande quantidade de alimentos defumados e/ou conservados em sal como charques e alguns alimentos embutidos tinham uma alta incidência de câncer de estômago.
3. DIETA COM ALIMENTOS MUITO SALGADOS
Como referido acima, alimentos conservados em sal são considerados de risco para o desenvolvimento de câncer de estômago. Este dado vem também da análise de populações que comem muitos alimentos crus conservados em sal como no Japão por exemplo.
4. HÁBITO DE FUMAR
Como em quase todos os tipos de câncer o hábito de fumar está envolvido com um aumento da incidência de câncer de estômago
5. CONSUMO FREQUENTE DE BEBIDA ALCOÓLICA
Devido ao caráter agressivo que o álcool tem sobre a mucosa gástrica o uso frequente desta substância tem grande relação com o desenvolvimento da malignidade do estomago
6. HELICOBACTER PYLORI
É uma bactéria que está presente na mucosa gástrica em uma grande parte da população. Pode ser detectada pela biópsia realizada durante um exame de Endoscopia Digestiva e está associada a um aumento da incidência de câncer de estômago naqueles casos em que está presente
Estes são os principais fatores de risco sempre lembrando a importância da prevenção procurando evitar ou minimizar estes fatores de risco
Autor: Prof. Dr. Antônio Carlos Weston
Ex-Presidente da Associação Brasileira de Câncer Gástrico. Professor de Cirurgia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Chefe do Serviço de Cirurgia Geral da Santa Casa de Porto Alegre. Doutor em Ciências Médicas. Mestre em Gastroenterologia.
O tratamento do câncer do estômago tem passado por uma revolução nas últimas duas décadas. Novas modalidades terapêuticas têm emergido principalmente no campo da oncologia clínica, o que significa o emprego de quimioterapia, radioterapia e mais recentemente, da imunoterapia. Entretanto, a cirurgia continua sendo a principal modalidade de tratamento, quando falamos em intenção curativa.
Existem três tipos de cirurgias para realizar a retirada de um tumor no estômago. São elas: a cirurgia endoscópica; a cirurgia aberta ou convencional; e a cirurgia minimamente invasiva, que pode ser laparoscópica ou robótica.
A primeira, pouco comum em nosso país, uma vez que, somente se aplicam a casos muito selecionados de tumores iniciais e pequenos, o que não é a realidade brasileira, são as cirurgias realizadas através de uma endoscopia digestiva alta, em que somente o tumor é retirado, preservando-se o estômago.
Já, nas outras duas vias, aberta e minimamente invasiva, uma parte ou eventualmente todo o estômago é retirado, caracterizando-se, respectivamente, a gastrectomia subtotal (ou parcial) e a gastrectomia total. Uma etapa fundamental da operação é a retirada sistemática dos linfonodos (gânglios), denominada linfadenectomia. Os dois principais motivos da importância da linfadenectomia são: os linfonodos são a principal sede de metástases ou disseminação da doença; e somente através de uma linfadenectomia adequada é que temos condição de determinar o estádio em que a doença se encontra, em outras palavras o quão avançada está.
A reconstituição do sistema digestivo após uma gastrectomia pode se dar de várias maneiras. O mais comum é com o intestino delgado que é emendado ou com o remanescente gástrico ou com o esôfago dependendo da extensão da gastrectomia.
O tempo de internação hospitalar é muito variável dependendo do serviço em que o doente se encontra e obviamente das particularidades individuais de cada paciente, como presença ou não de comorbidades (doenças associadas – hipertensão arterial, diabetes, obesidade etc.). Em média, nas gastrectomias subtotais, o paciente permanece internado entre 5 e 7 dias, enquanto nas gastrectomias totais, de 8 a 10 dias.
Por serem operações com inúmeras peculiaridades técnicas, sugere-se que os pacientes procurem centros (hospitais) e principalmente, cirurgiões, que estejam familiarizados e treinados com o manejo dessa doença, para que possam receber a melhor orientação terapêutica possível a fim de, minimizar os riscos cirúrgicos e até mesmo, contribuindo para um prognóstico mais favorável.
Prof. Dr. Osvaldo Antônio Prado Castro
Professor Assistente do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Secretário Geral da ABCG.
“Prevenir é sempre melhor que remediar”.
Esta frase faz parte da “sabedoria popular” tanto no Brasil como no exterior. No caso do câncer mais ainda. É no começo da transformação maligna que se tem as maiores chances de intervir e curar. São estes dois passos que, em última análise, poderão possibilitar sua cura com maior probabilidade. Evitar que a doença sequer ocorra chama-se prevenção primária. Mas o diagnóstico precoce também é prevenção, chama-se prevenção secundária.
No caso do câncer de estômago, a prevenção primária se faz mudando hábitos, e evitando a ingesta de determinadas substâncias, ou infecções do revestimento interno do estômago, e algumas gastrites (inflamações do estômago). Deve-se evitar alimentos contendo sal (cloreto de sódio), salitre, compostos N-nitrosos contidos, por exemplo, em alimentos embutidos (charcuterie), determinados queijos, pickles, defumados. Uso de temperos fortes (pimentas e afins), como a pimenta-caiena. Demora na ingesta do café-da-manhã. Uso de álcool ou tabaco, ou os dois combinados. Infecção da camada interna do estômago pela bactéria Helicobacter pylori (H. pylori) que, ao longo dos anos pode levar ao desenvolvimento do câncer, seja o mais comum denominado carcinoma (95% dos casos), seja o linfoma (5% dos casos).
A prevenção secundária se faz quando o médico do paciente solicita uma endoscopia digestiva alta (EDA) para pacientes sintomáticos (queimação, azia, dor na “boca do estômago”, náuseas frequentes, vômitos). Mas a própria EDA será mais ou menos eficiente na dependência do treinamento do médico que a realiza. Ou se a EDA for feita em pacientes sem queixas ou sintomas, na dependência de sua idade, antecedentes familiares de câncer do estômago, muitas vezes de forma hereditária ou familiar, ou outros canceres na família, por exemplo em campanhas públicas de rastreamento ou rastreio (termos sinônimos), ou screening (em inglês). Algo como buscar a existência de “um inimigo escondido” antes que ele cresça. Deve haver acesso fácil a este exame, no setor público ou privado.
Ambas as prevenções serão mais eficientes havendo uma campanha de conscientização e divulgação na mídia leiga, e entre os próprios médicos. Tal como iniciado de modo pioneiro no Brasil e no mundo pela ABCG desde 2017.
Procure seu médico. Acesse o site da ABCG e colha informações. É o primeiro passo para conquistarmos a vitória contra esta doença agressiva.
Autor: Dr. Marcelo Mester
Cirurgião do Hospital das Clínicas - Faculdade Medicina USP, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Hospital Santa Catarina, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Sírio-Libanês.
O tratamento oncológico do câncer gástrico do tipo adenocarcinoma consiste na ressecção do tumor, quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e drogas de alvo molecular. A escolha dos medicamentos depende do tamanho do tumor, da presença ou não de doença a distância (metástases) e de algumas características do próprio tumor. Além dos adenocarcinomas existem outros tumores mais raros com tratamentos específicos.
A quimioterapia pode ser realizada antes e após a ressecção cirúrgica do tumor e por isso chamada de tratamento peri-operatório ou após a ressecção cirúrgica do tumor chamada de tratamento adjuvante. Os quimioterápicos agem em mecanismos celulares que impedem a sua duplicação, com isso diminui o a proliferação das células tumorais. No entanto, como estes medicamentos agem na duplicação celular, eles também afetam células normais que se duplicam com frequência como as células sanguíneas (hemácias, glóbulos brancos e plaquetas). Os quimioterápicos são na maioria das vezes injetados por via endovenosa, diluídas em soro fisiológico ou glicosado. Os demais são comprimidos que oferece maior comodidade ao doente.
A radioterapia pode ser indicada em alguns casos no pós-operatório em conjunto com a quimioterapia. A imunoterapia tem indicação em poucos casos que apresentam alguns marcadores que podem ser pesquisados no tumor ou no sangue. Alguns tumores apresentam marcação de uma proteína chamada HER2 (que também aparece em tumores de mama). Nestes casos o uso de uma droga que se associa ao receptor de HER 2 na célula tumoral pode ser usada também em associação a quimioterapia.
Todos os tratamentos têm por objetivo aumentar o tempo de vida do paciente sem piorar a qualidade de vida.
Autora: Profa. Dra. Nora Manoukian Forones
Presidente da ABCG. Oncologista Clinica. Professora titular da Universidade Federal de São Paulo e coordenadora do Setor de Oncologia gastrointestinal
Os doentes que tiveram câncer de estômago precisam ser acompanhados após a cirurgia. A cirurgia é única opção de cura e, sem dúvida, um marco no tratamento dessa neoplasia. O doente e seus familiares sentem se aliviados com a remoção do tumor, mas fica a preocupação de uma recidiva ou metástase. Outros aspectos importantes dos doentes operados por câncer do estômago são: o nutricional, decorrente principalmente e em alguns casos da perda total do estômago (gastrectomia total), mas não menos importante na gastrectomia parcial; e emocional por ser um sobrevivente de uma doença que tem o estigma de sofrimento e morte.
Em outros doentes, o câncer pode não desaparecer completamente. Esses doentes continuarão realizando tratamentos regulares com quimioterapia, ou outros tratamentos, por exemplo, a radioterapia com o objetivo de evitar seu reaparecimento ou tentar manter a doença sob controle.
Após a alta hospitalar é recomendado que o doente retorne as consultas ambulatoriais inicialmente em 30 , 60, 90 e 180 dias. Nessas consultas, além da avaliação clínica criteriosa, alguns exames principalmente laboratoriais podem ser solicitados. Exames de imagem como a tomografia computadorizada, ressonância magnética ou o pet/ct poderão ser necessários. Nesse mesmo período é importante avaliar o estado nutricional, a adaptação e progressão das dietas e a capacidade de ingestão de alimentos, sempre coordenados por nutrólogo e/ou nutricionista.
O período crítico do câncer recorrer é nos 2 primeiros anos após a cirurgia. Depois desse tempo a chance reduz. Portanto, como norma, nosso serviço propõe consultas semestrais nos primeiros 2 anos e posteriormente anual até completar 5 anos. A endoscopia digestiva alta com o objetivo de detectar uma recidiva ou o aparecimento de outro câncer gástrico só esta indicada quando a foi feita uma retirada parcial do estômago.
Comer nem sempre é fácil para esses doentes principalmente que fizeram a gastrectomia total. A recuperação do peso e estado nutricional pode levar meses ou até anos. Alteração no paladar, perda do apetite, ansiedade entre outros fatores dificultam essa recuperação nutricional. Por vezes, acompanhamento psicológico e ou psiquiátrico do doente e seus cuidadores podem ajudar nesse processo. A alimentação fracionada e balanceada é recomendada e estimulada. Alguns doentes precisam utilizar temporariamente uma sonda enteral para incrementar esse aporte nutricional.
American Cancer Society - 2020
Autor: Prof. Dr. Laercio Gomes Lourenço
Ex-presidente da ABCG, ex-Chefe do grupo de Estomago da UNIFESP e ex Chefe de Cirurgia do Hospital do Rim da UNIFESP.