Sem dúvida que o uso da imunoterapia no tratamento do câncer tem atraído a atenção da comunidade médica e da sociedade como um todo, culminando com prêmio Nobel de Medicina 2018 para dois importantes cientistas da área: o norte-americano James Allisson e o japonês Tasuko Honj 

O uso da ativação do sistema imune no tratamento do câncer nos remete a década de 80, com o uso de interferon no tratamento do câncer de rim e melanoma, no entanto, a toxicidade excessiva ainda mantinha esta opção restrita para poucos pacientes. Mais recentemente, a descoberta de novos elementos da “conversa” entre a célula de defesa (linfócito) e a célula do tumor, assim como o desenvolvimento de novas drogas que agem liberando o freio do linfócito para atacar, causaram uma mudança de paradigma.

De forma paralela, o nosso conhecimento do câncer gástrico avançou de forma considerável por meio da publicação do consórcio do TCGA (The Cancer Genome Atlas) que ilustrou o perfil molecular destes tumores e nos revelou 4 subtipos distintos de tumor: genomicamente estável, instabilidade cromossômica, instabilidade de microssatélites (MSI) e induzido por Epstein-Barr Virus (EBV). 

No tratamento da doença localizada, análises retrospectivas de grandes estudos randomizados demonstraram ausência de benefício com uso de quimioterapia perioperatória ou adjuvante naqueles pacientes operados com os subtipos MSI e EBV. Prosseguir com novos estudos neste campo poderá fazer com que utilizemos menos quimioterapia em um cenário potencialmente fútil, reduzindo as toxicidades e os custos inerentes ao tratamento.

Estes mesmos subtipos (MSI e EBV) também se tornaram o centro das atenções devido a sua sensibilidade a imunoterapia. Em um estudo publicado na Nature Medicine em julho de 2018, taxas de resposta surpreendentes foram atingidas com Pembrolizumabe: 86% e 100% naqueles pacientes com MSI e EBV, respectivamente, mesmo após terem falhado a quimioterapia.

Ainda, o uso de imunoterapia está sendo investigado em combinação com quimioterapia no tratamento perioperatório e na primeira linha da doença metastática. Os resultados do estudo de tratamento de primeira linha (KEYNOTE 062) são aguardados para o congresso da ASCO (American Society of Clinical Oncology) em junho deste ano.

Vivemos um momento importante na história do tratamento desta doença e torna-se fundamental buscarmos biomarcadores que possam predizer prognóstico e resposta ao tratamento, para, desta forma, voarmos cada vez mais alto. 

No Brasil, o uso de imunoterapia está aprovado pela ANVISA no câncer gástrico após falha a 2 linhas de quimioterapia.

 

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Tiago Biachi de Castria
Oncologista Clínico no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo/Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICESP/FMUSP), Oncologista Clínico Titular do Hospital Sírio-Libanês e pesquisador do Centro Cochrane do Brasil. É membro Titular da Associação Brasileira de Câncer Gástrico – ABCG. 

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